terça-feira, 13 de janeiro de 2015

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Discutindo filhos, família e hipocrisia

Laços familiares



                                                                                                       
Dentre as coisas que mais quero na vida está a paternidade, situada entre os pilares que objetivam meu viver. Em cima disto discuto e debato quase diariamente comigo mesmo ou outras pessoas sobre o direito de constituir uma família e de escolher ter ou não filhos.
Penso no processo de adoção que por alguns motivos é complicado demais. Por um lado não se pode simplesmente entregar a vida de uma criança nas mãos de alguém que não lhe dê algum garantia de que cuidará bem dela, por outro lado dificultar demais o processo tende a torna-lo desanimador. Talvez vençam os mais persistentes, o que não significa que serão bons ou maus pais.

Lembro-me de uma noticia já antiga de uma mulher que adotou uma criança, mas a torturava. Essa mulher tinha algum cargo que lhe garantia certo status financeiro, hoje não me recordo qual. Se ela usou do status para adiantar o processo de adoção acredito que nunca poderei confirmar. Isso faz pensar numa tabu social, o aborto. Sabidamente mulheres ricas abortam com certa facilidade enquanto mulheres mais pobres muitas vezes viram noticia de jornal por terem morrido em abortos clandestinos. É o dinheiro que comanda o “direito de viver”? A resposta eu deixo para cada um de vocês, leitores.

Falemos agora do casamento homoafetivo e adoção. Há muitas pessoas que se dispõe absolutamente contra isso, afirmam quase sempre que é uma “abominação” perante a Igreja/Bíblia. Colocam-se como defensoras da família e da vida. Bom, já enchi esse parágrafo de demasiadas incoerências. Vamos pensar um pouco. Uma colega minha, católica, numa conversa que tivemos há pouco tempo questionou “não entendo porque os lideres religiosos são contra o casamento dos gays, se estes estão justamente querendo construir uma família enquanto casais heterossexuais cada vez menos se importam em casar”. Achei plausível e sadio o comentário dela, afinal é o que tenho visto. Muitos dos que falam em valores estão justamente invertendo os valores. Não se pode ser a favor da família e proibir que pessoas formem suas próprias famílias, esse tipo de ato é hipocrisia demais. Conheço ainda pessoas que atingem o limite do ridículo e comparam o casamento de dois homens ou mulheres com o casamento de uma pessoa e uma cabra, uma pessoa e uma planta ou até um adulto e uma criança ( e vamos deixar claro aqui que existem religiões que cultuam atos de pedofilia como até de suas culturas e isso não tem nada a ver com homossexualidade, e muito menos recebe atenção critica como se destinam aos homossexuais). Nas relações entre pessoas o que não pode ser permitido é que uma tire a liberdade e dignidade da outra, que abusem dos inocentes e violentem o outro. Se negam aos gays o casamento a adoção então é muito pior. Vejo nisso muita crueldade. Pense bem, dois homens ou duas mulheres que sonham em ter filhos. Podem ser pessoas boas, trabalhadoras e dedicas, caridosas e gentis e mesmo assim negarão à elas a realização desse tão importante desejo.


Por outro lado vemos mulheres que simplesmente não querem ter filho, não por esse ou aquele motivo, mas que apenas não o querem. Nisso, chovem acusações e alcunhas sobre elas. Como se o fato delas não quererem filhos fizesse delas abominações. As acusações e ironias se repetem sempre “quem vai cuidar de você quando ficar velha?”, “vai morrer sozinha”, “não vai deixar um herdeiro”. A mulher que não quer filhos é mal vista, definem que absolutamente deve haver um problema com ela. O fato de ser sua vontade não importa. Temos também as mulheres que abortam e são multiplamente condenadas! Se forem pobres isso já é uma das condenações: estão fadadas ao aborto ilegal e altamente perigoso, muitas morrem e os que se dizem “pró-vida” ficam felizes que elas morram.

Nossa sociedade chegou a um ponto onde nada está bom, porque se uma família resolve ter muitos filhos já vem alguém pra acusar de que querem ser bancados com as bolsas do governo! Nada agrada. Se a idade Média foi vista como a idade das Trevas, talvez no futuro nos enxerguem como a Idade Do Desacordo. Não aceitam quem não quer ter filhos, negam adoção pra quem quer adotar e quem decide ter ainda é vítima de acusações. Afinal, para onde foi o bom senso?

Enquanto as pessoas não se decidem e martelam nessa ideia fixa de bem e mal, certo e errado, retidão e pecado, muita gente morre, os orfanatos estão cheios de crianças órfãs e carentes de amor, mulheres pobres são vitimas de abortos ilegais e ninguém escapa de ser julgado e condenado.


Muito disse e nada disse, uma vez que só falei o obvio, mas no entanto o que podemos fazer é justamente refletir sobre o obvio e descobrir maneiras de reparar nossos erros. Quem sabe com instrução e dialogo construamos uma sociedade mais justa. 

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4/ 5
Oleh