terça-feira, 26 de janeiro de 2016

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Entrevista com a Autora: Maya Falks



Bom dia leitores, hoje dentro do Projeto Plena vou apresentar pra vocês uma autora pela qual eu tenho um grande carinho. Maya é uma mulher que inspira, tem uma capacidade de produzir palavras de encanto e textos de grande inteligencia. Dentre todas as entrevistas que fez vou dizer que essa foi a que mais me tocou, mais adentrou minha alma com poesia e fascínio. Espero que vocês mergulhem nessa entrevista e se deixem envolver pelas palavras de Maya:



1- Fale-nos um pouco de você. Quem você é? O que te move, inspira e diverte? Qual sua formação?

Eu sou escritora até os ossos. Eu sou a garotinha que era chamada de louca na escola porque escrevia poesia na aula de química. Será certamente um grande clichê dizer que a literatura me move, mas não há outra forma melhor de dizer que literatura não é somente o que eu faço, mas o que eu sou. Eu sou um conjunto de histórias, e elas me movem. Minha diversão é criar histórias. 100% do tempo. 90% delas se perdem na minha imaginação e nunca são escritas.

Sou publicitária – redatora – especialista em marketing com formação em storytelling (nenhuma novidade que isso signifique “contar histórias, certo?) e atualmente estou estudando direito.

2- Como se da à relação entre você e a literatura?

Digamos que seja uma relação afetivo-amorosa-erótica como qualquer história de amor que eu venha a escrever. Freud defende que sexo não é somente o encaixe genital, mas tudo aquilo que te proporcionar um prazer real, orgástico. Nesse ponto de vista não soa estranho dizer que minha relação com a literatura é sexual. Erótica até o último fio de cabelo. Ela me dá prazer intenso, eu a dou à luz. Ela me insemina, e do meu corpo – minha mente e minhas mãos – nascem os frutos, num ciclo constante de amor, prazer e vida.

3- Quais são seus livros publicados? Fale-nos um pouco deles e onde podemos compra-los.

Depois de Tudo, um romance que... bom... ele é classificado como romântico, mas não é tão simples assim. Não é sobre amor, é sobre escolhas e consequências. É sobre viver em sociedade cujas nossas decisões influem muito sobre a vida e o destino de outras pessoas. É sobre encontros e desencontros. É sobre encontrar o grande amor na pessoa errada. Júlia é uma menina que tinha tudo para viver uma vida feliz e plena, mas que vê sua vida desmoronar diante de seus olhos. Toni um homem maduro, casado, pai de um casal que descobre o amor fora do casamento visto por todos como ideal. Depois de Tudo foi publicado pela editora Autografia e tem à venda na loja virtual da Livraria Cultura.


Essa é uma história que podia ser a sua. Nem todos os amores acontecem de forma romântica e tranquila. Júlia sabe bem disso e sente na pele quando os problemas com o pai perturbado arrancam de sua vida aquele que acreditava ser seu grande amor. Toni, casado e pai de família, se sente incompleto, não encontra em sua esposa aquele amor que desejava para sua vida. É nesse contexto que a vida de Toni e Júlia se cruzam mais uma vez. E dessa vez muita coisa pode mudar, não apenas para eles, mas para todos ao seu redor. Toni e Júlia não vivem somente uma história de amor, mas de escolhas, desafios e a busca pelo sonhado final feliz.
4- Como se deu sua inserção nesse universo literário? Quais desafios encontrou para publicação de seus livros e como os superou?

A lembrança mais antiga que tenho na vida é datada de um tempo em que me nasciam os primeiros dentes – eu tinha um livro chamado “Batalhão das Letras” (ainda o tenho, como recordação) de Mario Quintana. Cada página é dedicada a uma letra do alfabeto e conta com uma ilustração cheia de personagens. Eu não tinha condições de ler, era apenas um bebê, mas isso não importava, eu ficava horas olhando a mesma página e inventando histórias com o cenário e os personagens da mesma. Aos 3 anos passei a ditar as histórias para minha mãe; eu desenhava histórias em quadrinhos e ditava os diálogos, e as histórias já tinham coerência e sequência lógica dos fatos.

Tão logo fui alfabetizada (aos 7 anos), escrevi minha primeira narrativa longa, Amor Eterno, a história de um casal de vizinhos separados na pré-adolescência que se reencontra anos depois para viver sua história de amor. Aos 11 escrevi “A vingança”, um romance policial sobre um grupo de detetives particulares ameaçados por um serial killer que eles haviam ajudado a prender e que tinha fugido da prisão. Aos 12 embarquei na poesia e juntei, no mesmo ano, mais de 100 poesias em uma obra chamada “Magia”. Ainda nos 12 anos comecei a esboçar os primeiros contos.

Embora chamasse a atenção de professores e amigos da família, eu era de uma classe média em decadência, filha de uma dona de casa e um representante comercial em uma cidade provinciana onde se destaca quem tem “pedigree”. E foi assim que, apesar desse histórico, me mantive anônima e não publicada por muitos dos anos seguintes.

Segui escrevendo contos e poesias, arrisquei mais uma narrativa longa aos 20 anos cuja ideia ainda me tortura porque quer nascer e eu ainda não deixei. Aos 24 arrisquei um concurso literário, em que saí vitoriosa e, com a mesma idade, escrevi o Depois de Tudo.

Na época não existiam plataformas online de autopublicação e eu não tinha dinheiro para pagar uma publicação do meu bolso, mas de qualquer forma, eu não aprecio esse formato. Acredito que cada um deve realizar seu sonho como lhe convier, mas eu realmente não gosto da autopublicação, por isso foi uma batalha de 8 anos entre portas na cara e revisões do livro até que ele, enfim, fosse publicado. Não me arrependo, sei que o livro que está no mercado é imensamente melhor do que aquele que escrevi em 2007. Não vou dizer que não foi doloroso, cogitei desistir muitas vezes, passei muita noite em claro chorando de dor e frustração, mas a necessidade de revisar e aprimorar meu filhote gerou uma maturidade literária gigante em mim, fazendo com que meus textos hoje sequer lembrem quem eu era 5 anos atrás.
Hoje, além do Depois de Tudo, somo 14 prêmios entre contos, crônicas e poesias, 8 deles conquistados somente no ano de 2015.
5- Que elementos você considera importante na construção de um personagem? 

Verossimilhança e humanidade. Claro que me refiro às histórias que escrevo, que são realistas. No segmento de fantasia construir personagens fieis à realidade não devem ser exigidos, mas no caso do segmento que eu atuo, acho importante que os personagens respeitem a inteligência do leitor. Meus personagens são tridimensionais. Não existem vilões malvadões nem mocinhos que chegam a ser idiotas de tão bons. Todos possuem aspectos psicológicos que os levam a determinadas ações, todas as suas ações interferem no universo alheio, como na vida real. No Depois de Tudo, por exemplo, a protagonista é a Júlia, ela é seguidamente vitimada pelas decisões alheias, mas ela é um ser humano e parte do livro se passa na sua adolescência, então ela tem suas birras adolescentes, e, embora ela se fortaleça na passagem do tempo, ela ainda é o resultado de uma família desestruturada. O universo que a cerca é respeitado na construção de sua personalidade, eu não poderia construir uma estrutura psicológica nela que se assemelhasse à minha, por exemplo, que tenho uma família estruturada e estável.

Também considero importante que o autor se distancie o máximo possível de seus personagens. Claro que todo personagem leva um pouco do autor, mas deve ser, preferencialmente, o mínimo possível, para que o autor não esteja limitado a construir histórias autobiográficas onde se mudam nomes e cenários, mas os personagens são praticamente iguais. 

6- Quais são os livros e autores que inspiram sua vida? Recomenda-me algum.

Gonçalves Dias pra mim é o mestre supremo. Sou perdidamente apaixonada pelo romantismo brasileiro, das três fases, mas considero Gonçalves Dias o grande nome de todos os tempos.

Fora ele, autores que moldaram muito do que sou hoje são Letícia Wierzschowski, Jodi Picoult e Nora Roberts – a qual já fui comparada. Também já me compararam com Danielle Steel, mas considero Danielle excessivamente dramática; embora o drama esteja em minhas veias, também gosto de rechear minhas histórias de sarcasmo e diálogos ácidos, vez ou outra consigo arrancar riso do leitor mesmo em um momento tenso da história. Mas minha especialidade é mesmo fazer chorar. 

7- Fale-me de seus projetos futuros. Tem mais livros a caminho?

Vivo um momento de congestionamento criativo. Tenho produzido intensamente, estou com sete projetos me dando dor de cabeça porque querem sair todos ao mesmo tempo, mas na prática estou trabalhando em cima de uma história real com alguns bons toques de ficção, sobre os anos que fui groupie de uma banda de rock. Tive a ideia no meu último encontro com a banda e o líder da banda adorou, deu o maior apoio. Espero que fique tão bom quanto tem potencial. Neste o drama fica em segundo plano, estou pegando pesado no humor.

9- O que significa para você esse efeito mágico que a leitura causa nas pessoas, especialmente nas crianças e nos adultos sonhadores?

Eu chamo de diesel, o combustível pra esse caminhão de ideias que é minha cabeça. Sem a magia que os livros provocam, a literatura simplesmente não faz sentido. Por mais prazer que criar e escrever me proporcionem, minha vida não alcançaria nenhum nível de completude se eu não estivesse usando esse poder criativo que ganhei e soube desenvolver para proporcionar coisas boas às pessoas. Eu quero mudar a maneira como as pessoas enxergam a vida, mesmo que seja por um segundo, eu sei que vim ao mundo pra isso, e saber que existem pessoas que se emocionam com o que eu produzo é a segurança de que chegarei ao meu túmulo pronta pra partir em paz.

10- Escolha uma frase ou parágrafo de um de seus livros para nos inspirar. 

Opto por escrever uma nova, especialmente feita para esse questionário:
Se fosse tão simples trocar um disco, não existiriam os indecisos que passam horas e horas escolhendo entre as capas e os nomes enigmáticos aquele que possivelmente será sua trilha sonora. Existem mil fatores que fazem com que nenhuma escolha seja fácil, nem a mais banal, porque todas elas mexem com aquele cantinho do cérebro que nos diz tagarela: “podia ter sido melhor com a outra opção”. As roupas, calçados, o corte de cabelo, a nova leitura. Tudo podia ser melhor com a outra opção. Talvez seja por isso que existem vozes específicas que nos gritam aos ouvidos o tempo todo para que sejamos responsáveis, para que não nos deixemos levar por emoções tão rasas. Mas o que são as experiências senão um apanhado gigante de escolhas erradas?

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4/ 5
Oleh