Laços
familiares
Dentre as coisas que mais
quero na vida está a paternidade, situada entre os pilares que objetivam meu
viver. Em cima disto discuto e debato quase diariamente comigo mesmo ou outras
pessoas sobre o direito de constituir uma família e de escolher ter ou não
filhos.
Penso no processo de adoção
que por alguns motivos é complicado demais. Por um lado não se pode
simplesmente entregar a vida de uma criança nas mãos de alguém que não lhe dê
algum garantia de que cuidará bem dela, por outro lado dificultar demais o
processo tende a torna-lo desanimador. Talvez vençam os mais persistentes, o
que não significa que serão bons ou maus pais.
Lembro-me de uma noticia já
antiga de uma mulher que adotou uma criança, mas a torturava. Essa mulher tinha
algum cargo que lhe garantia certo status financeiro, hoje não me recordo qual.
Se ela usou do status para adiantar o processo de adoção acredito que nunca
poderei confirmar. Isso faz pensar numa tabu social, o aborto. Sabidamente
mulheres ricas abortam com certa facilidade enquanto mulheres mais pobres
muitas vezes viram noticia de jornal por terem morrido em abortos clandestinos.
É o dinheiro que comanda o “direito de viver”? A resposta eu deixo para cada um
de vocês, leitores.
Falemos agora do casamento
homoafetivo e adoção. Há muitas pessoas que se dispõe absolutamente contra
isso, afirmam quase sempre que é uma “abominação” perante a Igreja/Bíblia.
Colocam-se como defensoras da família e da vida. Bom, já enchi esse parágrafo
de demasiadas incoerências. Vamos pensar um pouco. Uma colega minha, católica,
numa conversa que tivemos há pouco tempo questionou “não entendo porque os
lideres religiosos são contra o casamento dos gays, se estes estão justamente
querendo construir uma família enquanto casais heterossexuais cada vez menos se
importam em casar”. Achei plausível e sadio o comentário dela, afinal é o que
tenho visto. Muitos dos que falam em valores estão justamente invertendo os
valores. Não se pode ser a favor da família e proibir que pessoas formem suas
próprias famílias, esse tipo de ato é hipocrisia demais. Conheço ainda pessoas
que atingem o limite do ridículo e comparam o casamento de dois homens ou
mulheres com o casamento de uma pessoa e uma cabra, uma pessoa e uma planta ou
até um adulto e uma criança ( e vamos deixar claro aqui que existem religiões
que cultuam atos de pedofilia como até de suas culturas e isso não tem nada a
ver com homossexualidade, e muito menos recebe atenção critica como se destinam
aos homossexuais). Nas relações entre pessoas o que não pode ser permitido é
que uma tire a liberdade e dignidade da outra, que abusem dos inocentes e
violentem o outro. Se negam aos gays o casamento a adoção então é muito pior.
Vejo nisso muita crueldade. Pense bem, dois homens ou duas mulheres que sonham
em ter filhos. Podem ser pessoas boas, trabalhadoras e dedicas, caridosas e
gentis e mesmo assim negarão à elas a realização desse tão importante desejo.
Por outro lado vemos
mulheres que simplesmente não querem ter filho, não por esse ou aquele motivo,
mas que apenas não o querem. Nisso, chovem acusações e alcunhas sobre elas.
Como se o fato delas não quererem filhos fizesse delas abominações. As
acusações e ironias se repetem sempre “quem vai cuidar de você quando ficar
velha?”, “vai morrer sozinha”, “não vai deixar um herdeiro”. A mulher que não
quer filhos é mal vista, definem que absolutamente deve haver um problema com
ela. O fato de ser sua vontade não importa. Temos também as mulheres que abortam
e são multiplamente condenadas! Se forem pobres isso já é uma das condenações:
estão fadadas ao aborto ilegal e altamente perigoso, muitas morrem e os que se
dizem “pró-vida” ficam felizes que elas morram.
Nossa sociedade chegou a um
ponto onde nada está bom, porque se uma família resolve ter muitos filhos já
vem alguém pra acusar de que querem ser bancados com as bolsas do governo! Nada
agrada. Se a idade Média foi vista como a idade das Trevas, talvez no futuro
nos enxerguem como a Idade Do Desacordo. Não aceitam quem não quer ter filhos,
negam adoção pra quem quer adotar e quem decide ter ainda é vítima de
acusações. Afinal, para onde foi o bom senso?
Enquanto as pessoas não se
decidem e martelam nessa ideia fixa de bem e mal, certo e errado, retidão e
pecado, muita gente morre, os orfanatos estão cheios de crianças órfãs e
carentes de amor, mulheres pobres são vitimas de abortos ilegais e ninguém escapa
de ser julgado e condenado.
Muito disse e nada disse,
uma vez que só falei o obvio, mas no entanto o que podemos fazer é justamente
refletir sobre o obvio e descobrir maneiras de reparar nossos erros. Quem sabe
com instrução e dialogo construamos uma sociedade mais justa.
Discutindo filhos, família e hipocrisia
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Oleh
Professor Augusto Junior